Como a Bíblia chegou até nós
Profeta, legislador, senhor de servos e dono de rebanhos, ou
simplesmente pastor de ovelhas, o primeiro homem que traçou as
primeiras palavras do primeiro livro da Bíblia não dispunha de
muitos recursos materiais para a execução do seu trabalho
literário.
Antes dele, e há milhares de anos, os primeiros descendentes de Adão
e Eva vinham utilizando a face lisa das rochas para desenhar animais,
figuras humanas e símbolos ritualísticos, ou para contar a história
de guerras, de epidemias, de enchentes, de fartura e de paz.
Porém, certamente o primeiro homem que recebeu do Altíssimo
inspiração para escrever o texto que iniciou o registro da
Revelação divina à humanidade – a Bíblia –, não fez uso da
pedra para dar forma escrita à Mensagem do Senhor. Curiosamente,
esse método de registro de palavras em pedra foi certa vez utilizado
pelo profeta Isaías (Isaías 8.1), quando Deus mandou que o profeta
tomasse “uma ardósia grande”, e escrevesse sobre ela (na edição
Almeida Revista e Atualizada. Na edição Almeida Revista e
Corrigida, a expressão usada é “toma um grande volume”).
No Dicionário Houaiss, a palavra “ardósia” é definida como
“rocha metamórfica compacta, de granulação fina e cor cinza”,
também usada como lousa, ou quadro.
Moisés, ao escrever os livros que compõem o Pentateuco, não fez
uso da escrita cuneiforme (em forma de cunha), nem das tabuinhas de
argila, ou tijolinhos, utilizados como instrumentos de escrita na
civilização babilônica.
Porém, o profeta Ezequiel usou certa vez essa superfície física
para gravar a figura da cidade de Jerusalém (Ezequiel 4.1). Quem fez
uso da pedra para registrar seus mandamentos foi o próprio Senhor,
ao preparar e entregar a Moisés as tábuas de pedra contendo a lei e
os demais preceitos divinos (Êxodo 24.12).
Nota
“Infoescola”: A escrita cuneiforme
foi criada pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma
escrita que é produzida com o auxilio de objetos em formato de
cunha. A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo,
apareceu mais ou menos na mesma época dos hieróglifos, foi criada
por volta de 3.500 a.C. No começo a escrita era meio enigmática,
mas com o passar do tempo foram se tornando mais simples.
A
escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito difícil de
ser decifrada, pois possuía mais de 2000 sinais e seu uso era de uma
dificuldade enorme. O seu principal uso foi na contabilidade e na
administração, pois facilitavam no registro de bens, marcas de
propriedade, cálculos e transações comerciais.
A
"CANETA" E O "CADERNO" DE MOISÉS
Porém, tudo o mais que Moisés escreveu (Êxodo 24.4), ele o fez
utilizando rolos de papiro e uma cana de junco, conhecida como pluma,
que variava de 15 a 40 centímetros de comprimento (Vide Josh
McDowell. Evidencia que exige um veredicto (trad. espanhola).
Editorial Vida. Miami, FLA, 1982, p.30. Há uma tradução portuguesa
deste livro pela Editora Candeia).
Sua extremidade era cortada em forma de cinzel (“instrumento manual
que tem numa extremidade uma lâmina de metal resistente muito
aguçada”, Houaiss), e isto permitia fazer-se inscrições grossas
ou finas.
Uma análise minuciosa da tinta utilizada nos papiros mostrou que
esta era um composto de carvão, goma e água, ao que acrescentavam
um ácido, para torná-la perdurável.
Crescendo abundantemente nos lugares pouco profundos dos lagos e rios
do Egito e da Mesopotâmia, o papiro era uma planta em forma de cana,
cuja medula era cortada em tiras, e essas eram unidas em ângulo reto
umas com as outras, em seguida prensadas e colocadas para secar.
Depois de prensadas, as tiras formavam uma espécie de papel áspero,
posteriormente suavizado pelo atrito de uma pedra lisa. Em seguida,
várias dessas folhas de papiro eram unidas umas às outras, formando
rolos que mediam até dez metros de comprimento. (Foi descoberto um
rolo que media nada menos que 48 metros! – Carlos W. Turner. El
Libro Desconocido. Librerie La Aurora. Buenos Aires, 1943, p. 12.
Vide também Josh McDowell, op. cit.).
CONFIRMADO:
MOISÉS ESCREVEU O PENTATEUCO
Já que estamos fazendo referências a Moisés em sua qualidade de
escritor sagrado, é oportuno lembrar aqui que o grande legislador
hebreu certa vez foi motivo de uma grande polêmica ocorrida entre os
detratores da Bíblia e vários especialistas no Antigo Testamento.
Baseados em alguns documentos antigos, os representantes da chamada
“alta crítica” da Bíblia afirmaram que Moisés não poderia ter
escrito o Pentateuco, pois no seu tempo a escrita ainda era
desconhecida.
Consequentemente, o Pentateuco teria sido escrito por um autor mais
recente.
Mas essa afirmação desmoronou por completo quando alguns
arqueólogos, que faziam escavações próximo às ruínas de
Babilônia, descobriram o “código negro”, as famosas Leis de
Hamurabi.
Era um grande bloco de pedra negra, com leis babilônicas escritas em
caracteres cuneiformes, vários séculos mais antigo do que os
escritos de Moisés, sendo, inclusive, anterior ao próprio Abraão.
Portanto, a humanidade já vinha utilizando-se da escrita desde
períodos muito mais remotos do que se pensava.
Não fosse o zelo e a inesgotável paciência dos copistas que
preparavam o maior número possível de cópias dos originais do
Antigo Testamento, hoje praticamente quase todos os seus livros
estariam perdidos, pois os papiros eram frágeis, e se desgastavam
depois de um certo tempo, sobretudo quando expostos à umidade.
Haja vista que os manuscritos descobertos em 1947 nas cavernas de
Qumran, próximas ao Mar Morto, só permaneceram intactos por terem
sido escritos sobre pergaminho, e guardados dentro de cilindros de
barro em uma região de clima seco.
A fragilidade do papiro levou os homens a procurarem outro
material mais resistente, e assim o papiro foi substituído pelo
pergaminho – a pele de ovelhas e de outros animais. Depois de
ser submetidas a uma rigorosa raspagem, as peles eram esticadas ao
sol.
Além de ser mais durável, o pergaminho mostrou-se um material muito
mais prático e cômodo, tanto para a formação de rolos como para a
escrita em si, e continuou sendo utilizado por todo o mundo antigo,
até Gutenberg inventar a imprensa, no final do século XV.
O
TRABALHO EXTRAORDINÁRIO DOS MASSORETAS
Na luta contra o desgaste e o desaparecimento dos manuscritos
sagrados destacaram-se, entre todos os que se dedicaram à
preservação da Palavra de Deus, um grupo de sábios judeus, os
massoretas. O pesquisador Diego Arenhoevel (Assim se formou a Bíblia.
Edições Paulinas. São Paulo, 1978. p. 34) afirma que os
massoretas “contavam os versículos, as palavras e mesmo as letras
de cada livro, para garantir que, durante a atividade de preparação
das cópias, não se perdesse nenhuma letra que fosse.”
Extremamente zelosos com o que faziam, os massoretas, antes de
começarem suas atividades, purificavam-se, vestiam roupas especiais,
e todas as vezes que iam escrever o nome de Deus, utilizavam outro
instrumento de escrita especialmente reservado para isto. Entre eles
havia uma recomendação:
“Quando você estiver no trabalho de copista e for copiar o nome
de Deus, não se distraia com nada. Se alguém nesse momento lhe
dirigir a palavra, não pare para atender a essa pessoa, mesmo que
ela seja o próprio rei, e isto lhe custe o risco de ser decapitado.
Não desvie sua atenção, pois você está escrevendo o Nome que
está acima de todo nome.”
Graças a esses homens que se dedicaram, com piedade e zelo, a
copiar fidedignamente o texto sagrado, hoje tem sido possível
constatar-se a fidelidade do texto bíblico atual em relação aos
mais antigos manuscritos.
OUTRAS
IMPORTANTES DESCOBERTAS
Além da grande descoberta dos manuscritos do Mar Morto, houve
também outras igualmente importantes, tanto no campo da arqueologia
quanto no da filologia.
Quando a Pedra de Roseta foi decifrada pelo sábio francês François
Champollion (a pedra foi encontrada no delta do Nilo, próximo à
Alexandria, por Napoleão Bonaparte e sua comitiva de sábios, e
estava recoberta de registros hieroglíficos – sinais que os
egípcios usavam como escrita), e quando outros filólogos
conseguiram decifrar a escrita cuneiforme, tornou-se possível ler os
antigos registros do Egito, da Babilônia, da Assíria e da Pérsia.
Então, diante de historiadores e sábios, a veracidade e o
fundamento histórico, religioso e literário do Antigo Testamento
foram indiscutivelmente comprovados.
Certa vez um jovem seminarista alemão, estudioso do Novo
Testamento, estava examinando antigos documentos papíricos em grego
(cartas, contratos, arrependimentos, convites, registros, notícias e
bilhetes privados), escritos por pessoas que viveram no tempo em que
o Novo Testamento foi escrito.
Pouco a pouco, ele começou a ficar admirado com a semelhança do
grego daqueles documentos (simples, familiar, utilizado no dia-a-dia)
com o grego que o apóstolo Paulo havia usado para escrever suas
cartas.
Aquela descoberta vinha resolver um problema há muito insolúvel –
por que o Novo Testamento havia sido escrito em uma linguagem
não-clássica, não-literária, em grego koinê, popular? A
descoberta do seminarista Adolf Deisman no convento de Santa Catarina
do Monte Sinai comprovou que aquilo havia sido uma providência de
Deus para que o Evangelho atingisse rapidamente as camadas populares
daquela época, e a verdade fosse guardada no coração e na mente do
povo.
A Revelação de Deus alcançou em pouco tempo a todos, graças à
linguagem maravilhosa e simples em que foi escrita.
O próprio apóstolo Paulo, no primeiro capítulo da 1ª Carta aos
Coríntios, desconsiderou o estilo literário, e isto lhe custou
severas censuras da parte dos crentes de Corinto, que criticaram sua
maneira rude de usar o grego (2 Coríntios 11.6). Porém, os papiros
encontrados pelos arqueólogos têm confirmado que o apóstolo, ao
escrever suas cartas, na grandeza de sua simplicidade, não fez uso
de um estilo retórico, e até fugiu de palavras rebuscadas.
Agindo assim, ele construiu o maior monumento teológico-literário
a serviço da grandiosa e simples mensagem de Jesus Cristo, o Senhor
da Verdade e da Simplicidade.
Jefferson
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